segunda-feira, 26 de março de 2012

Demagogia e Coronelismo em Rosário do Sul


A Folha Rosariense, edição online de 23 de março pp., estampou extensa reportagem sobre a repercursão do ìndice Firjan na Câmara Municipal de Rosário do Sul (“Questão da gestão fiscal foi assunto principal da Câmara”).

Como seria esperado, as manifestações foram de desaprovação ao índice, que posiciona Rosário do Sul entre as piores gestões fiscais do Rio Grande do Sul e do Brasil.

O índice Firjan publicado “... é elaborado exclusivamente com dados oficiais, declarados pelos próprios municípios à Secretaria do Tesouro Nacional” e relativos ao período 2006-2009.

É costume óbvio que ninguém deseja ver sua cidade tão mal posicionado em um assunto que envolve diretamente a administração do município. Reações emocionadas são compreensíveis, mas não podem descambar para a demagogia, como o fato de um Sr. Vereador afirmar “... que Município pode processar a Firjan” (título de notícia da Folha Rosariense). 

E por que demagogia?

Por que se apoia unicamente no estado emocional do momento como negativa de uma realidade: os dados que geraram o índice foram fornecidos por Rosário do Sul e, comparados com outros municípios brasileiros, indicam que a cidade foi mal administrada em termos fiscais e econômicos. Daí que, processar a Firjan, o Município está habilitado (o direito de ação é constitucionalmente garantido a todos), mas vencer o processo é fato completamente diferente, ainda mais quando as provas (os dados fornecidos pelo município) depõem contra ele próprio.

Mas também não quero ser demagógico ou oportunista e usar os dados contra a cidade. O objetivo é exatamente o contrário: identificar de modo racional onde estão os problemas e procurar soluções adequadas (aliás, este é o único objetivo deste blog).

Procurei fonte alternativa de dados estatísticos sobre Rosário do Sul capazes de se contraporem ou confirmarem o índice Firjan. Encontrei-os, pela web, na FEE – Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, um órgão público.

Os dados apresentados pela FEE mostram de maneira clara que a experiência econômica rosariense é mais dramática do que a apontada pelo Índice Firjan. 

ROSÁRIO ERA, EM 2009, MAIS POBRE DO QUE EM 1991 NA COMPARAÇÃO COM OS DEMAIS MUNICÍPIOS GAÚCHOS.

Reproduzo, em tabela, os principais indicadores para o município no período 1991 – 2009:



Ano
Saneamento
Saúde
Educação

Renda
Posição Geral (IDESE)
1991
36°
158°
158°
153°
59°
2000
93°
384°
225°
259°
162°
2001
96°
387°
265°
260°
165°
2002
96°
455°
226°
258°
170°
2003
96°
439°
170°
281°
174°
2004
96°
409°
192°
267°
155°
2005
97°
470°
207°
259°
155°
2006
96°
475°
260°
312°
184°
2007
97°
482°
258°
304°
192°
2008
97°
383°
258°
263°
162°
2009
96°
87°
289°
247°
136°


Algumas afirmações podem ser deduzidas da tabela.

Por exemplo, Rosário do Sul “regrediu” em bem estar social na década de 90, indo da 59ª posição entre os municípios gaúchos melhor situados (1991) para a 162ª posição (2000), com piora em todos os indicadores. 
 
De 2000 a 2009, apenas o indice “Saneamento” manteve-se estável e em 2009; ocorreu melhora significativa em “Saúde” (alguma coincidência com a reeleição do atual prefeito, médico por formação?).

Outro indicativo, do Tribunal de Contas do Estado, mostra que, no período compreendido entre 2006 e 2010, Rosário do Sul investiu 19,16% do total arrecadado com impostos na área de saúde, ocupando a posição 158° entre os municípios que mais investiram no Estado em proporção aos impostos arrecadados.

O índice “Renda” apresenta ligeira melhoria em relação a 2000, mas essa melhoria é contraposta por uma piora acentuada no índice “Educação”.


 Deterioração acentuada na educação (linha vermelha) e renda (linha azul) entre 1991 - 2009.
Fonte: FEE.

A crescente queda do índice Educação está acompanhada por correspondente queda no índice de Renda, ligeiramente invertida em 2009, mas que se pode, hipoteticamente, atribuir ao crescimento generalizado da Renda no Brasil em função do excelente panoramana econômico vivido pelo País na ocasião (em 2009 a cidade alcançou a melhor colocação no índice Renda no Rio Grande do Sul desde 2000, mas mesmo assim bastante distante da posição desfrutada 18 anos atrás).


Não sei se tais dados são de conhecimento da administração municipal ou dos senhores vereadores. Se não o forem, indicam que, de modo geral, as pessoas encarregadas para o gerenciamento dos recursos da cidade estão mal informadas ou não dispõem das habilidades administrativas e gerenciais esperadas quando foram eleitas legitimamente pelos rosarienses. Tais informações são públicas, pois me bastou uma simples pesquisa no Google e pouco mais de ½ hora para compilá-los, e são de fundamental importância para a propositura de qualquer ação consequente para administração de qualquer entidade, ainda mais uma cidade. Como uma pessoa pode exercer qualquer ação efetiva se não conhece a situação sobre a qual estará agindo?

Mas talvez a própria Folha Rosariense contenha a resposta para esta indagação. O órgão de comunicação demonstra como a prática de uma velha e perversa tradição política dominante no Brasil de meados do século passado ainda se faz presente: o Coronelismo. Este fenômeno foi, inclusive, título de um clássico da literatura política brasileira: Coronelismo, enxada e voto.

Pois bem, a reportagem “Vereadores de Rosário do Sul devolvem 108,5 mil reais para o Poder Executivo” estampa a foto de alguns membros da Câmara Municipal sorridentes junto com o Sr. Prefeito (notícia publicada em 06/01/2012). 

Na notícia, é destaque o fato de que a Câmara Municipal devolveu valores economizados durante o ano de 2011. 

Pois bem, Srs. Vereadores: economizar não é nada mais do que obrigação decorrente do cargo para o qual foram eleitos e, além disso, economia significa simplesmente não desperdiçar o que não foi consumido.

O dinheiro não é da câmara, mas da população, pois dela foi recolhido por intermédio de impostos. Dinheiro de TODOS os contribuintes. Devolvê-lo indicando especificamente que seja aplicado em benefício de determinado bairro (Vila Nova) e cercado de publicidade, por mais carente que seja tal comunidade, e em ano eleitoral, pode ser qualificado como fato a ter utilidade eleitoral posterior  digno de um "coronel", mesmo por que não são todos os vereadores que aparecem na foto do jornal . Além disso, fere a regra republicana (e princípio da administação pública) da impessoalidade.

Que as eleições deste ano sirvam para o debate efetivo de ideias e recoloquem Rosário do Sul no caminho do desenvolvimento econômico e melhoria geral da qualidade de vida!


terça-feira, 20 de março de 2012

Capacidade administrativa municipal


Imagine que você é uma pessoa de negócios e que sua família é formada por quatro pessoas (o casal e duas crianças). Você atua no comércio varejista e possui um estabelecimento comercial (o popular “armazém”), onde vende produtos diversos. Sua clientela é estável e o desempenho comercial bom, com perspectivas razoáveis de ampliação.

Suas crianças, em idade escolar, frequentam uma escola de nível médio, dentro do padrão considerado “normal” para a cidade. Você imagina o futuro delas como semelhante ao seu, sem enfrentar necessidades, mas no mesmo patamar social em que você se encontra. Aliás, “mobilidade e ascenção sociais” são termos sobre os quais você tem uma leve intuição, mas nunca se preocupou em entendê-los adequadamente.

Por você nunca ter se preocupada com o que seja “mobilidade e ascenção sociais”, você não percebe que, se realizasse investimentos sistemáticos em seu comércio (e para os quais você possui condições), você poderia hoje ser proprietário de um supermercado (e não de um simples “armazém”, como se diz em linguagem popular), com aumento da clientela e diversificação no padrão de consumo. Você poderia almejar para suas crianças uma formação superior em Administração ou Marketing, com possibilidades de um MBA (“Master Business Administration” - especialização na área gerencial), fato que as possibilitaria gerenciar e expandir progressivamente seu negócio, talvez até formar uma cadeia de supermercados, com filiais em outras cidades. Se agisse desse modo, você estaria exercendo a função de cidadão ativo, com habilidade para entender que seu bem estar está intimamente associado com o bem estar da comunidade em que vive. Seu pequeno negócio pode ser um sucesso, mas, na possibilidade de outras pessoas de sua comunidade não terem a mesma sorte social, elas ingressarão na pobreza crescente e seu estabelecimento poderá se tornar alvo de assaltos.

Ao aproveitar as oportunidades de crescimento de seu negócio e torná-las real, você ajuda pessoas ao propiciar-lhes oportunidades de emprego e evita a má sorte social delas, principalmente desemprego, para não citar necessidades básicas não atendidas, como alimentação. Pela educação de suas crianças em padrões mais elevados que o atual, você potencializaria o crescimento de seu negócio e sua amplitude social.

Pois bem, a estória dessa família é a história de Rosário do Sul, de acordo com Índice Firjan de Gestão Fiscal.



Indíce Firjan de Gestão Fiscal para Rosário do Sul - fonte: www.firjan.org.br

Por incompetência administrativa, Rosário apresenta situação crítica em termos de eficiência administrativa em âmbito econômico, constanto em 494° na classificação relativa ao Rio Grande do Sul e em 5194° na classificação geral do Brasil (dados de 2010 publicados em 2012). O que esses dados significam? Que Rosário do Sul é um dos municípios economicamente mais atrasados do Rio Grando do Sul e do Brasil.

Este é uma ano de eleições e todos somos responsáveis pela situação crítica que se encontra o município. Pois, ao escolhermos, por exemplo, nossos representantes políticos por critérios derivados unicamente da amizade ou, pior ainda, pela venda do voto, deixamos de ser cidadãos para nos tornarmos vassalos (o termo "vassalo" lhe parece próprio da Idade Média, quando os Senhores Feudais dominavam as suas regiões? Pois essa é, aproximadamente, a situação atual de Rosário do Sul e os "Senhores Feudais" são os administradores municipais. Sua "corte" são os vereadores ou vereadoras que os apoiam incondicionalmente ou que se calam na proposição de medidas que tirem a cidade do estado em que se encontra).

A escolha adequada do Prefeito ou Prefeita e dos vereadores ou vereadoras deve repousar no mérito dos candidatos ou candidatas. Qual o plano de governo apresentado? Ele é realista e baseado em necessidades da cidade e dos cidadãos ou é um mero amontoado de promessas vazias ou fúteis, que nada mais fazem do que disfarçar o desejo do candidato por um cargo público com “polpuda” remuneração pelos próximos quatro anos? Se o candidato postula a releição, prestou serviços relevantes à comunidade ou apenas “enrolou” com tarefas como solicitar a troca da iluminação pública quando uma lâmpada “queima”?

Lembre-se: Rosário está na situação em que encontra, em parte, por culpa dos eleitores ao escolherem seus administradores de forma inadequada. Não eleja, você também, administradores inadequados!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

Por que o desenvolvimento de Rosário do Sul importa.


Uma das mais belas passagens da filosofia sobre a indagação “Quem Sou?” mostra uma carruagem conduzida por dois imponentes cavalos sob o controle de um condutor em um campo imenso.


Os cavalos tem temperamentos diferentes: um quer manter-se na estrada, o outro quer invadir os campos; um quer seguir em frente, o outro deseja aventuras e prazeres.

O trabalho do condutor é controlar os animais e mantê-los na estrada. O desgarramento dos cavalos significa a impossibilidade de continuidade da viagem e o abandono. Sem eles, a carruagem não terá como prosseguir e o destino do condutor estará comprometido.

Esta metáfora não representa objetos desunidos, dispersos, mas a essência do ser humano, ou a alma (sem conotação religiosa).

A carruagem é o corpo físico.

Os cavalos são a razão e a emoção.

O condutor é a consciência, o “eu”.

A estrada é o percurso da existência.

O campo é o ambiente onde a pessoa se insere.

Quanto mais árido for o campo, quanto menores oportunidades de estabelecimento para o condutor, maior a distância da estrada a ser percorrida.

Trazendo para a realidade rosariense a metáfora, gostaria de encarná-la em duas pessoas distintas, uma do Plácido de Castro de 1970, e outra do presente, 2011. O motivo de escolha das duas pessoas é simples: de certo modo, as conheço. Poderiam ser quaisquers rosarienses e a ideia é, precisamente, que outras pessoas se identifiquem com elas.

A pessoa de 1970 se chama Telmo Lima e Silva. Cursou o antigo ginásio no Plácido e, ao iniciar o científico, Telmo foi estudar na Escola Técnica Federal de Pelotas.

Hoje mora em Portugal e é um bem sucedido especialista em ressonância magnética e tomografia computadorizada.

O ambiente representado por Rosário do Sul naqueles tempos era árido em termos de oportunidades de desenvolvimento profissional. A esmagadora maioria dos colegas de Telmo deixou a cidade. São condutores que tinham aspirações de vida definidas, perceberam as dificuldadse de realizá-las em sua cidade natal e conduziram seus cavalos na direção de locais mais propícias para realização dos sonhos e objetivos de vida.

Formatura do ginásio em 1970. Foto do álbum
 do Telmo, reproduzida com permissão.



                                                                                       
A pessoa do presente se chama Eduarda Silveira. Conheço-a virtualmente, mas uma frase colocada em seu Trabalho de Conclusão de Curso revela seu caráter batalhador e decidido:

 “Por mais longa que seja a caminhada, o mais importante é darmos o primeiro passo” (Vinícius de Morais).

De certo modo, essa era o sentimento que predominava na década de 70. Não significa necessariamente que Eduarda vá partir de Rosário, mas também não significa que desenvolva sua vida profissional na cidade. 

Aqui está a razão pela qual a cidade precisa reinventar-se, atingir novos patamares de desenvolvimento econômico e oferecer novas oportunidades para seus habitantes – impedir que talentos promissores a deixem, como aconteceu no passado e pode acontecer no presente.

Foto da Eduarda na rede social Facebook.
Reproduzida com permissão.


Uma cidade não pode ser conceituada apenas como local de morada. Deve reunir condições de permitir o pleno desenvolvimento das potencialidades humanas. Deve reunir condições da pessoa expressar suas habilidades criadores, transformadoras.

Uma das principais condições é a possibilidade da pessoa gerar renda, atingir um padrão de desenvolvimento econômico que permita atender o nível de vida que julga adequado para si e sua família. 

Mas renda não é gerada de forma isolada; exige cooperação e possibilidades de escolhas.

Uma pessoa quando adquire um bem ou serviço de outra, embora movida por interesses particulares, está incentivando aquele que lhe vende a manter seu negócio e mesmo expandi-lo na forma de nova opções de consumo.

Mas, para isso, é necessário que quem compra tenha a oportunidade de obter a renda que ora transforma em consumo.

A economia é um processo cooperativo e os administradores tem a obrigação de incentivá-la na forma de luta pelo desenvolvimento econômico expresso no florescimento de oportunidades. Mas parece que a administração de Rosário do Sul não percebe tais conceitos elementares. Não fosse assim, Rosário do Sul não teria perdido tanta gente desde a partida do Telmo, em 1970. São pessoas talentosas que poderiam cooperar com os que ficaram na geração de oportunidades econômicas em ritmo superior ao verificado (No recente censo do IBGE, Rosário do Sul se alinha com as cidades mais pobres do Rio Grande do Sul).

Não se está afirmando nem insinuando que as pessoas que permaneceram na cidade não sejam capazes ou competentes. Mas a força da cooperação foi enfraquecida. Cada vez que alguém parte de Rosário do Sul a procura de oportunidades em outros locais, a cidade perde duplamente: perde “cérebros” que estariam engajados no desenvolvimento da cidade e perde os investimentos efetuados em educação, pois os conhecimentos adquiridos serão aplicados em prol de outras comunidades.

Rosário não pode sequer aventar a perda da Eduarda como, no passado, perdeu o Telmo e grande número de seus colegas do Plácido de Castro.

Entretanto, a responsabilidade de incrementar o nível das oportunidades na cidade não é apenas da administração pública. A sociedade civil, tem uma responsabilidade gigantesca: precisa identificar, tornar públicos e buscar soluções para os problemas que inibem o desenvolvimento da cidade. 

Cito nominalmente aqueles que conheço: Gazeta de Rosário do Sul, as comunidades virtuais Rosário do Sul e Rosário do Sul / Debates, os advogados Jair Rodrigues Mendes e Luciana Flores Figueredo (por estarem envolvidos em causas comunitárias), o radialista Pedro Borges, a Rádio Marajá: todos precisam assumir a responsabilidade, além do que já o fazem, de se engajarem no incremento do bem estar e desenvolvimento econômico de Rosário do Sul. 

Cidades são organismos vivos. 

Basear-se na ilusão de que apenas as belezas das Areias Brancas impulsionarão o desenvolvimento da cidade é priorizar a emoção sobre a razão. Prestem atenção no fluxo de esgoto que deságua no Rio. Mirem no exemplo do estuário do Guaíba em Porto Alegre e dos problemas ambientais hoje enfrentados. Lembrem da partida da Cia Swift e do abandono da linha férrea.

Assumam conscientemente as rédeas do desenvolvimento econômico e social da cidade, sob pena de, não o fazendo, continuarem presenciando a perda do maior capital de qualquer sociedade: o capital humano.


Plácido de Castro em 1970 - Foto do álbum do Telmo.

domingo, 27 de novembro de 2011

Olarias, responsabilidade social e desenvolvimento econômico

Você pode ter uma ideia e conviver com ela durante anos sem nunca tentar concretizá-la; você pode ter muitas ideias brilhantes que nunca se tornaram reais por que você não sabe por qual começar; você pode não ter nenhuma ideia “fantástica”, mas apenas a certeza de que seu estado atual de vida não é o modelo que você deseja para seu futuro e está disposto a transformá-lo.

Mesmo a natureza requer ação "humanizadora" para adequar-se
 aos nossos padrões

As três situações refletem, em larga escala, situações cotidianas de um grande número de sujeitos. Sob o enfoque das atitudes pessoais, englobam duas classes de pessoas: as passivas e as ativas.

Mesmo que você seja a pessoa intelectualmente mais brilhante do mundo, essa condição em nada lhe ajudará se ficar confinada em sua mente. Por outro lado, suas ideias podem ser consideradas banais, mas, se você se engajar em construir a existência que considera adequada, provavelmente poderá, após alguns anos, dizer, com um sorriso nos lábios, que suas escolhas e ações “valeram a pena”.

O enfoque que interessa neste post é o dos comportamentos passivos, ou dos sujeitos que não assumem as iniciativas de suas ações.

Objetivamente, as pessoas são passivas por que não conseguem identificar claramente quais são suas necessidades ou por que acreditam que alguém (talvez Deus) lhes proverá o atendimento das necessidades básicas.

Entretanto, quando a passividade é de algum gestor público, o comportamento torna-se inadmissível por uma questão de princípio: a função do gestor público é o de, além de gerenciar da melhor forma possível os interesses da comunidade que representa, servir como catalizador para o desenvolvimento econômico, social e cultural de seus representados. Estes não são argumentos saídos do “vácuo”, mas obrigações constitucionalmente estabelecidas (Art. 23 e seus incisos da CF de 1988).

Pois bem, Rosário do Sul parece ter optado pela passividade no tocante ao desenvolvimento econômico. É inacreditável como a gestão pública da cidade não consegue resolver alguns problemas elementares como, por exemplo, a presença de olarias devidamente estabelecidas e com capacidade para atender a demanda da cidade. É difícil acreditar que os tijolos consumidos em Rosário do Sul … sejam produzidos, em sua maioria, fora do município!


Qual caminho já deveria ter sido adotado pela gestão municipal ou, na ausência desta, ser questionado pelos vereadores ?

1. Identificar as partes interessadas no negócio;

2. Identificar os requisitos ambientais para o exercício da atividade e fornecer condições para obtenção de eventuais recursos que permitam o atendimento de tais requisitos (como a cidade gasta uma fortuna em diárias e não tem condições de incentivar o desenvolvimento econômico?)

3. Disponibilizar condições para o desenvolvimento sustentado da atividade (existem instituições que atuam especificamente na identificação e solução de problemas empresariais para micros, pequenos e médios empreendedores, como o SEBRAE);

4. Fornecer suporte e acompanhamento à gestão negocial, seja por incentivos fiscais ou formação de mão de obra específica (várias prefeituras de outras cidades, observadas as especificidades que lhes são próprias, atuam dessa forma por meio de programas intitulados Fundo Social de Solidariedade).

Os benefícios de tais ações são inquestionáveis, como:

1. Geração de renda para os empreendedores e trabalhadores envolvidos;

2. Aumento da arredação por intermédio dos impostos advindos da atividade;

3. Geração de empregos, de modo direto e indireto, com consequente incremento no bem estar social;

4. Incentivo indireto ao comércio, pois mais renda = maior atividade econômica;

5. Proteção social pela integração dos novos trabalhados à Previdência Social (talvez as pessoas não percebam, mas cada pessoa desempregada que utiliza a Previdência Social tem os serviços pagos, indiretamente, por uma pessoa na ativa);

6. O executivo cumpre com um dos papéis para que foi eleito: incentivo e ordenação do desenvolvimento econômico.

Finalizando, agradeço ao Dr. Jair Rodrigues Mendes e a Dra. Luciana Flores Figueredo por informações sobre a indústria de olarias em Rosário do Sul, pelas fotos sobre a construção civil na cidade  e pela colaboração na escrita deste post.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Saúde pública, saneamento e a opinião do Sr. Prefeito

Sempre tive uma enorme dificuldade em compreender como algumas pessoas não percebem a enorme distância que separa seus ideais e suas ações práticas para tornar esses sonhos concretos.

Exemplo é a situação daquelas que julgam o estado social em que se encontram inadequado e almejam evoluir para uma existência digna, expressa no atendimento de necessidades básicas como moradia própria, renda razoável e opções de lazer apropriadas. Entretanto, a maioria dessas pessoas não adota atitudes que permitam tais mudanças. Elas não entendem que a iniciativa expressa pelo engajamento em ações que permitam mudanças em suas vidas, ou reinvenção de si mesmas, principalmente pela educação formal, é o caminho seguro para concretização de seus sonhos.

Recentemente, a imprensa escrita de Rosário do Sul publicou artigo do médico e prefeito da cidade, Dr. Ney da Silva Padilha, intitulado “Sem saneamento, sem saúde”. Graves problemas do saneamento básico da cidade são expostos, inclusive o atraso do município em relação às outras regiões do Rio Grande do Sul. Artigo que parece corretíssimo, verdadeiro e sinal de alerta para que problemas dessa natureza sejam tratados com a seriedade que requerem, sob pena de graves consequências futuras.

Como médico e cidadão, Dr. Ney está pleno de razões em suas análises.

Entretanto, não consigo compreender como Dr. Ney, como prefeito da cidade e responsável pela administração pública, não empreende medidas adequadas para sanar o problema, pelo menos de forma a ser confirmada pelos fatos. De certo modo, me parece que o artigo do Sr Prefeito retrata um caso exemplar de distância entre ideais pessoais e ações práticas no percurso de concretização desses ideais. Se a pessoa dispõem das condições legais (como autoridade máxima do executivo) e materiais (recursos financeiros) para alterar determinado estado de coisas em benefício da comunidade pela qual foi eleito e não o faz ...então, algo deve estar, no mínimo, mal equacionado.

Independente de quais argumentos possam ser apresentados, a realidade da cidade é que ações concretas em termos de saneamento básico ou inexistem ou são ineficazes. Esgotos a céu aberto existem por toda as regiões da cidade e, em alguns casos, desaguam no Rio Santa Maria, hoje uma das maiores fontes econômicas da cidade em função da beleza da praia Areias Brancas e das águas que abastecem as plantações de arroz do município.

Dr. Ney, como pessoa o Sr. não pode ser criticado, pois o direito de opinião, seja ela qual for, é direito básico constitucionalmente garantido a todos os cidadãos brasileiros. Mas, como prefeito, ou sou um completo idiota, que não consegue perceber a realidade dos fatos, ou seu artigo é um perfeito exemplo de hipocrisia política. Pois os fatos depõem contra a visão expressa em seu artigo.


















sábado, 12 de novembro de 2011

"Com os pés no chão ..." (ou "Sure, We Can ...")

É gratificante presenciar o envolvimento das pessoas em questões comunitárias, rompendo com o isolamento individualista centrado unicamente nos próprios interesses. Tais atitudes nada mais são do que o exercício da cidadania.

Por isso, destaco o programa do radialista Pedro Borges na Rádio Marajá de Rosário do Sul.

Conheço Pedro de longa data, deste o início de 1970, quando estudávamos no Plácido de Castro. Sempre o tive como excelente e perspicaz crítico social. Por isso, explicito o que entendo por “crítico social”: é a pessoa com argúcia para perceber os problemas que afetam uma comunidade e que a bloqueiam em seus anseios para atingir padrões de desenvolvimentos econômico e social alcançados por outras comunidades.

Tal concepção tem algumas implicações fundamentais: antes de tudo, qualquer pessoa é e necessita conceber a si mesma como cidadã do mundo. O fato de pertencer a uma comunidade específica significa tão somente que ela cria laços afetivos e uma identidade enquanto pertencente àquela comunidade, mas que, com o passar do tempo, podem ser alteradas se for inclusa em outro contexto social como, por exemplo, a mudança para outra cidade. Entretanto, a condição de cidadão do mundo somente pode ser modificada pela morte (não por acaso, os ditadores de qualquer parte do mundo assassinam facilmente seus adversários políticos).

Idealmente, um rosariense é, antes de tudo, um ator global, com preocupações com a qualidade de vida geral, com o equilíbrio ecológico do planeta e merecedor de desfrutar de padrão de vida material semelhante aos melhores níveis alcançados por qualquer outra comunidade. Como consequência dessas preocupações, centra sua atuação em Rosário do Sul por estar inserido na comunidade.

Em meu julgamento pessoal, Pedro Borges se encaixa nessa concepção de crítico social e cidadão global.

Esse conceito é tão importante, embora na maioria das vezes desconhecido, que pode mudar radicalmente a visão de mundo de uma pessoa e a forma dela interagir e transformar a realidade social ao seu redor. Apenas como exemplo: alguém duvida que este blog foi visualizado na Índia? Ou na Alemanha? Pois bem: foi e a prova disso é o relatório semanal do Google sobre o tráfego no blog.


Pois bem, Pedro Borges realizou uma entrevista com Luciana Flores Figueredo que foi ao ar, inicialmente, dia 11/11 à noite pela Rádio Marajá e via web. E aqui o importante não é se o Pedro concorda ou discorda das ideias da Luciana. O Importante é que, como crítico social, ele concretizou a oportunidade dela expressar seus pontos de vista sobre a administração da cidade e colocá-las em debate.

Luciana reforçou seguidas vezes a necessidade de um plano administrativo para a cidade ser elaborado como “os pés no chão”. A expressão pode ter interpretações diversas, mas isso não é novidade (o presidente norte-americano, Barak Obama, também utilizou, em sua campanha, uma expressão com possibilidades de interpretações diferenciadas: “Sure, We can ...”. Nós podemos o quê?).

Os pés no chão” traduzem a percepção de que a administração da cidade deve corresponder aos anseios dos diferentes setores da população e integrá-los em um plano de atuação eficiente e eficaz

Eficiente por que atende necessidades imediatas de Rosário do Sul;

Eficaz por que previne males futuros para Rosário do Sul.

Nesse ponto, questões de infraestrutura pública são de fundamental importância.

É preciso dotar a cidade de coleta e tratamento de esgoto. É preciso desenvolver estratégias de geração de renda para os setores pobres e marginalizados de Rosário. Estas ações, se realizadas de modo adequado, se traduzem em benefícios para toda a coletividade: melhor bem estar gera menor tensão social, com diminuição da criminalidade e aumento no fluxo econômico (maior renda = maior consumo).

É preciso interromper o processo que, com o crescimento populacional, aponta para a favelização de parcelas da sociedade rosariense. A Luciana tem consciência desses problemas.


Processo de favelização: ruas que se transformam em lodaçais com chuva + esgoto a céu aberto + renda precária = futura favela.

Parabéns Pedro. Parabéns Luciana. Parabéns comunidade rosariense por tê-los entre seus cidadãos.