quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

Por que o desenvolvimento de Rosário do Sul importa.


Uma das mais belas passagens da filosofia sobre a indagação “Quem Sou?” mostra uma carruagem conduzida por dois imponentes cavalos sob o controle de um condutor em um campo imenso.


Os cavalos tem temperamentos diferentes: um quer manter-se na estrada, o outro quer invadir os campos; um quer seguir em frente, o outro deseja aventuras e prazeres.

O trabalho do condutor é controlar os animais e mantê-los na estrada. O desgarramento dos cavalos significa a impossibilidade de continuidade da viagem e o abandono. Sem eles, a carruagem não terá como prosseguir e o destino do condutor estará comprometido.

Esta metáfora não representa objetos desunidos, dispersos, mas a essência do ser humano, ou a alma (sem conotação religiosa).

A carruagem é o corpo físico.

Os cavalos são a razão e a emoção.

O condutor é a consciência, o “eu”.

A estrada é o percurso da existência.

O campo é o ambiente onde a pessoa se insere.

Quanto mais árido for o campo, quanto menores oportunidades de estabelecimento para o condutor, maior a distância da estrada a ser percorrida.

Trazendo para a realidade rosariense a metáfora, gostaria de encarná-la em duas pessoas distintas, uma do Plácido de Castro de 1970, e outra do presente, 2011. O motivo de escolha das duas pessoas é simples: de certo modo, as conheço. Poderiam ser quaisquers rosarienses e a ideia é, precisamente, que outras pessoas se identifiquem com elas.

A pessoa de 1970 se chama Telmo Lima e Silva. Cursou o antigo ginásio no Plácido e, ao iniciar o científico, Telmo foi estudar na Escola Técnica Federal de Pelotas.

Hoje mora em Portugal e é um bem sucedido especialista em ressonância magnética e tomografia computadorizada.

O ambiente representado por Rosário do Sul naqueles tempos era árido em termos de oportunidades de desenvolvimento profissional. A esmagadora maioria dos colegas de Telmo deixou a cidade. São condutores que tinham aspirações de vida definidas, perceberam as dificuldadse de realizá-las em sua cidade natal e conduziram seus cavalos na direção de locais mais propícias para realização dos sonhos e objetivos de vida.

Formatura do ginásio em 1970. Foto do álbum
 do Telmo, reproduzida com permissão.



                                                                                       
A pessoa do presente se chama Eduarda Silveira. Conheço-a virtualmente, mas uma frase colocada em seu Trabalho de Conclusão de Curso revela seu caráter batalhador e decidido:

 “Por mais longa que seja a caminhada, o mais importante é darmos o primeiro passo” (Vinícius de Morais).

De certo modo, essa era o sentimento que predominava na década de 70. Não significa necessariamente que Eduarda vá partir de Rosário, mas também não significa que desenvolva sua vida profissional na cidade. 

Aqui está a razão pela qual a cidade precisa reinventar-se, atingir novos patamares de desenvolvimento econômico e oferecer novas oportunidades para seus habitantes – impedir que talentos promissores a deixem, como aconteceu no passado e pode acontecer no presente.

Foto da Eduarda na rede social Facebook.
Reproduzida com permissão.


Uma cidade não pode ser conceituada apenas como local de morada. Deve reunir condições de permitir o pleno desenvolvimento das potencialidades humanas. Deve reunir condições da pessoa expressar suas habilidades criadores, transformadoras.

Uma das principais condições é a possibilidade da pessoa gerar renda, atingir um padrão de desenvolvimento econômico que permita atender o nível de vida que julga adequado para si e sua família. 

Mas renda não é gerada de forma isolada; exige cooperação e possibilidades de escolhas.

Uma pessoa quando adquire um bem ou serviço de outra, embora movida por interesses particulares, está incentivando aquele que lhe vende a manter seu negócio e mesmo expandi-lo na forma de nova opções de consumo.

Mas, para isso, é necessário que quem compra tenha a oportunidade de obter a renda que ora transforma em consumo.

A economia é um processo cooperativo e os administradores tem a obrigação de incentivá-la na forma de luta pelo desenvolvimento econômico expresso no florescimento de oportunidades. Mas parece que a administração de Rosário do Sul não percebe tais conceitos elementares. Não fosse assim, Rosário do Sul não teria perdido tanta gente desde a partida do Telmo, em 1970. São pessoas talentosas que poderiam cooperar com os que ficaram na geração de oportunidades econômicas em ritmo superior ao verificado (No recente censo do IBGE, Rosário do Sul se alinha com as cidades mais pobres do Rio Grande do Sul).

Não se está afirmando nem insinuando que as pessoas que permaneceram na cidade não sejam capazes ou competentes. Mas a força da cooperação foi enfraquecida. Cada vez que alguém parte de Rosário do Sul a procura de oportunidades em outros locais, a cidade perde duplamente: perde “cérebros” que estariam engajados no desenvolvimento da cidade e perde os investimentos efetuados em educação, pois os conhecimentos adquiridos serão aplicados em prol de outras comunidades.

Rosário não pode sequer aventar a perda da Eduarda como, no passado, perdeu o Telmo e grande número de seus colegas do Plácido de Castro.

Entretanto, a responsabilidade de incrementar o nível das oportunidades na cidade não é apenas da administração pública. A sociedade civil, tem uma responsabilidade gigantesca: precisa identificar, tornar públicos e buscar soluções para os problemas que inibem o desenvolvimento da cidade. 

Cito nominalmente aqueles que conheço: Gazeta de Rosário do Sul, as comunidades virtuais Rosário do Sul e Rosário do Sul / Debates, os advogados Jair Rodrigues Mendes e Luciana Flores Figueredo (por estarem envolvidos em causas comunitárias), o radialista Pedro Borges, a Rádio Marajá: todos precisam assumir a responsabilidade, além do que já o fazem, de se engajarem no incremento do bem estar e desenvolvimento econômico de Rosário do Sul. 

Cidades são organismos vivos. 

Basear-se na ilusão de que apenas as belezas das Areias Brancas impulsionarão o desenvolvimento da cidade é priorizar a emoção sobre a razão. Prestem atenção no fluxo de esgoto que deságua no Rio. Mirem no exemplo do estuário do Guaíba em Porto Alegre e dos problemas ambientais hoje enfrentados. Lembrem da partida da Cia Swift e do abandono da linha férrea.

Assumam conscientemente as rédeas do desenvolvimento econômico e social da cidade, sob pena de, não o fazendo, continuarem presenciando a perda do maior capital de qualquer sociedade: o capital humano.


Plácido de Castro em 1970 - Foto do álbum do Telmo.

domingo, 27 de novembro de 2011

Olarias, responsabilidade social e desenvolvimento econômico

Você pode ter uma ideia e conviver com ela durante anos sem nunca tentar concretizá-la; você pode ter muitas ideias brilhantes que nunca se tornaram reais por que você não sabe por qual começar; você pode não ter nenhuma ideia “fantástica”, mas apenas a certeza de que seu estado atual de vida não é o modelo que você deseja para seu futuro e está disposto a transformá-lo.

Mesmo a natureza requer ação "humanizadora" para adequar-se
 aos nossos padrões

As três situações refletem, em larga escala, situações cotidianas de um grande número de sujeitos. Sob o enfoque das atitudes pessoais, englobam duas classes de pessoas: as passivas e as ativas.

Mesmo que você seja a pessoa intelectualmente mais brilhante do mundo, essa condição em nada lhe ajudará se ficar confinada em sua mente. Por outro lado, suas ideias podem ser consideradas banais, mas, se você se engajar em construir a existência que considera adequada, provavelmente poderá, após alguns anos, dizer, com um sorriso nos lábios, que suas escolhas e ações “valeram a pena”.

O enfoque que interessa neste post é o dos comportamentos passivos, ou dos sujeitos que não assumem as iniciativas de suas ações.

Objetivamente, as pessoas são passivas por que não conseguem identificar claramente quais são suas necessidades ou por que acreditam que alguém (talvez Deus) lhes proverá o atendimento das necessidades básicas.

Entretanto, quando a passividade é de algum gestor público, o comportamento torna-se inadmissível por uma questão de princípio: a função do gestor público é o de, além de gerenciar da melhor forma possível os interesses da comunidade que representa, servir como catalizador para o desenvolvimento econômico, social e cultural de seus representados. Estes não são argumentos saídos do “vácuo”, mas obrigações constitucionalmente estabelecidas (Art. 23 e seus incisos da CF de 1988).

Pois bem, Rosário do Sul parece ter optado pela passividade no tocante ao desenvolvimento econômico. É inacreditável como a gestão pública da cidade não consegue resolver alguns problemas elementares como, por exemplo, a presença de olarias devidamente estabelecidas e com capacidade para atender a demanda da cidade. É difícil acreditar que os tijolos consumidos em Rosário do Sul … sejam produzidos, em sua maioria, fora do município!


Qual caminho já deveria ter sido adotado pela gestão municipal ou, na ausência desta, ser questionado pelos vereadores ?

1. Identificar as partes interessadas no negócio;

2. Identificar os requisitos ambientais para o exercício da atividade e fornecer condições para obtenção de eventuais recursos que permitam o atendimento de tais requisitos (como a cidade gasta uma fortuna em diárias e não tem condições de incentivar o desenvolvimento econômico?)

3. Disponibilizar condições para o desenvolvimento sustentado da atividade (existem instituições que atuam especificamente na identificação e solução de problemas empresariais para micros, pequenos e médios empreendedores, como o SEBRAE);

4. Fornecer suporte e acompanhamento à gestão negocial, seja por incentivos fiscais ou formação de mão de obra específica (várias prefeituras de outras cidades, observadas as especificidades que lhes são próprias, atuam dessa forma por meio de programas intitulados Fundo Social de Solidariedade).

Os benefícios de tais ações são inquestionáveis, como:

1. Geração de renda para os empreendedores e trabalhadores envolvidos;

2. Aumento da arredação por intermédio dos impostos advindos da atividade;

3. Geração de empregos, de modo direto e indireto, com consequente incremento no bem estar social;

4. Incentivo indireto ao comércio, pois mais renda = maior atividade econômica;

5. Proteção social pela integração dos novos trabalhados à Previdência Social (talvez as pessoas não percebam, mas cada pessoa desempregada que utiliza a Previdência Social tem os serviços pagos, indiretamente, por uma pessoa na ativa);

6. O executivo cumpre com um dos papéis para que foi eleito: incentivo e ordenação do desenvolvimento econômico.

Finalizando, agradeço ao Dr. Jair Rodrigues Mendes e a Dra. Luciana Flores Figueredo por informações sobre a indústria de olarias em Rosário do Sul, pelas fotos sobre a construção civil na cidade  e pela colaboração na escrita deste post.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Saúde pública, saneamento e a opinião do Sr. Prefeito

Sempre tive uma enorme dificuldade em compreender como algumas pessoas não percebem a enorme distância que separa seus ideais e suas ações práticas para tornar esses sonhos concretos.

Exemplo é a situação daquelas que julgam o estado social em que se encontram inadequado e almejam evoluir para uma existência digna, expressa no atendimento de necessidades básicas como moradia própria, renda razoável e opções de lazer apropriadas. Entretanto, a maioria dessas pessoas não adota atitudes que permitam tais mudanças. Elas não entendem que a iniciativa expressa pelo engajamento em ações que permitam mudanças em suas vidas, ou reinvenção de si mesmas, principalmente pela educação formal, é o caminho seguro para concretização de seus sonhos.

Recentemente, a imprensa escrita de Rosário do Sul publicou artigo do médico e prefeito da cidade, Dr. Ney da Silva Padilha, intitulado “Sem saneamento, sem saúde”. Graves problemas do saneamento básico da cidade são expostos, inclusive o atraso do município em relação às outras regiões do Rio Grande do Sul. Artigo que parece corretíssimo, verdadeiro e sinal de alerta para que problemas dessa natureza sejam tratados com a seriedade que requerem, sob pena de graves consequências futuras.

Como médico e cidadão, Dr. Ney está pleno de razões em suas análises.

Entretanto, não consigo compreender como Dr. Ney, como prefeito da cidade e responsável pela administração pública, não empreende medidas adequadas para sanar o problema, pelo menos de forma a ser confirmada pelos fatos. De certo modo, me parece que o artigo do Sr Prefeito retrata um caso exemplar de distância entre ideais pessoais e ações práticas no percurso de concretização desses ideais. Se a pessoa dispõem das condições legais (como autoridade máxima do executivo) e materiais (recursos financeiros) para alterar determinado estado de coisas em benefício da comunidade pela qual foi eleito e não o faz ...então, algo deve estar, no mínimo, mal equacionado.

Independente de quais argumentos possam ser apresentados, a realidade da cidade é que ações concretas em termos de saneamento básico ou inexistem ou são ineficazes. Esgotos a céu aberto existem por toda as regiões da cidade e, em alguns casos, desaguam no Rio Santa Maria, hoje uma das maiores fontes econômicas da cidade em função da beleza da praia Areias Brancas e das águas que abastecem as plantações de arroz do município.

Dr. Ney, como pessoa o Sr. não pode ser criticado, pois o direito de opinião, seja ela qual for, é direito básico constitucionalmente garantido a todos os cidadãos brasileiros. Mas, como prefeito, ou sou um completo idiota, que não consegue perceber a realidade dos fatos, ou seu artigo é um perfeito exemplo de hipocrisia política. Pois os fatos depõem contra a visão expressa em seu artigo.


















sábado, 12 de novembro de 2011

"Com os pés no chão ..." (ou "Sure, We Can ...")

É gratificante presenciar o envolvimento das pessoas em questões comunitárias, rompendo com o isolamento individualista centrado unicamente nos próprios interesses. Tais atitudes nada mais são do que o exercício da cidadania.

Por isso, destaco o programa do radialista Pedro Borges na Rádio Marajá de Rosário do Sul.

Conheço Pedro de longa data, deste o início de 1970, quando estudávamos no Plácido de Castro. Sempre o tive como excelente e perspicaz crítico social. Por isso, explicito o que entendo por “crítico social”: é a pessoa com argúcia para perceber os problemas que afetam uma comunidade e que a bloqueiam em seus anseios para atingir padrões de desenvolvimentos econômico e social alcançados por outras comunidades.

Tal concepção tem algumas implicações fundamentais: antes de tudo, qualquer pessoa é e necessita conceber a si mesma como cidadã do mundo. O fato de pertencer a uma comunidade específica significa tão somente que ela cria laços afetivos e uma identidade enquanto pertencente àquela comunidade, mas que, com o passar do tempo, podem ser alteradas se for inclusa em outro contexto social como, por exemplo, a mudança para outra cidade. Entretanto, a condição de cidadão do mundo somente pode ser modificada pela morte (não por acaso, os ditadores de qualquer parte do mundo assassinam facilmente seus adversários políticos).

Idealmente, um rosariense é, antes de tudo, um ator global, com preocupações com a qualidade de vida geral, com o equilíbrio ecológico do planeta e merecedor de desfrutar de padrão de vida material semelhante aos melhores níveis alcançados por qualquer outra comunidade. Como consequência dessas preocupações, centra sua atuação em Rosário do Sul por estar inserido na comunidade.

Em meu julgamento pessoal, Pedro Borges se encaixa nessa concepção de crítico social e cidadão global.

Esse conceito é tão importante, embora na maioria das vezes desconhecido, que pode mudar radicalmente a visão de mundo de uma pessoa e a forma dela interagir e transformar a realidade social ao seu redor. Apenas como exemplo: alguém duvida que este blog foi visualizado na Índia? Ou na Alemanha? Pois bem: foi e a prova disso é o relatório semanal do Google sobre o tráfego no blog.


Pois bem, Pedro Borges realizou uma entrevista com Luciana Flores Figueredo que foi ao ar, inicialmente, dia 11/11 à noite pela Rádio Marajá e via web. E aqui o importante não é se o Pedro concorda ou discorda das ideias da Luciana. O Importante é que, como crítico social, ele concretizou a oportunidade dela expressar seus pontos de vista sobre a administração da cidade e colocá-las em debate.

Luciana reforçou seguidas vezes a necessidade de um plano administrativo para a cidade ser elaborado como “os pés no chão”. A expressão pode ter interpretações diversas, mas isso não é novidade (o presidente norte-americano, Barak Obama, também utilizou, em sua campanha, uma expressão com possibilidades de interpretações diferenciadas: “Sure, We can ...”. Nós podemos o quê?).

Os pés no chão” traduzem a percepção de que a administração da cidade deve corresponder aos anseios dos diferentes setores da população e integrá-los em um plano de atuação eficiente e eficaz

Eficiente por que atende necessidades imediatas de Rosário do Sul;

Eficaz por que previne males futuros para Rosário do Sul.

Nesse ponto, questões de infraestrutura pública são de fundamental importância.

É preciso dotar a cidade de coleta e tratamento de esgoto. É preciso desenvolver estratégias de geração de renda para os setores pobres e marginalizados de Rosário. Estas ações, se realizadas de modo adequado, se traduzem em benefícios para toda a coletividade: melhor bem estar gera menor tensão social, com diminuição da criminalidade e aumento no fluxo econômico (maior renda = maior consumo).

É preciso interromper o processo que, com o crescimento populacional, aponta para a favelização de parcelas da sociedade rosariense. A Luciana tem consciência desses problemas.


Processo de favelização: ruas que se transformam em lodaçais com chuva + esgoto a céu aberto + renda precária = futura favela.

Parabéns Pedro. Parabéns Luciana. Parabéns comunidade rosariense por tê-los entre seus cidadãos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Projeto de desenvolvimento econômico e social para Rosário do Sul

Todo projeto econômico envolve o estabelecimento e repostas para questões que apontam na direção do objetivo que se busca alcançar.

Um projeto de desenvolvimento para Rosário precisa responder as questões:

a) qual a faixa de trabalhadores a serem alcançados;

b) qual o modelo de negócio a ser implementado;

c) que resultados econômicos esperar;

d) onde obter os recursos necessários; e 

e) quem será o responsável por implementar o projeto.

A resposta para a faixa de trabalhadores a serem alcançados exige o conhecimento do tipo de trabalhador existente na cidade. Via de regra, esse trabalhador, predominante na população, não possui especialização técnica e executa atividades manuais gerais, a exemplo do que acontecia na antiga Cia Swift-Armour.

O modelo de negócio precisa atender ao critério de oferecer oportunidades de crescimento profissional, de modo a tornar-se autossustentável. Neste ponto, difere radicalmente do modelo gerencial do tempo da Cia Swift-Armour, hierárquico e com baixo nível de mobilidade.

Os resultados econômicos concentram-se na geração de renda e crescimento da escala do empreendimento de modo autossustentável (isto é, capaz de absorver, ao longo do tempo, quantidades maiores de trabalhadores e induzir o surgimento de novas oportunidades de trabalho).

Os recursos iniciais devem ser a fundo perdido, ou seja, concebidos como necessários ao nascimento de atividade econômica que requer período de maturação para a produção de resultados. Neste caso, deve ser buscado junto às instituições de fomento públicas por intermédio da administração pública municipal.

O responsável pela implementação e gestão do projeto idealmente engloba a participação de todos os atores envolvidos no projeto tanto a nível privado quanto público.

Mas, qual tipo de negócio se encaixa em tais objetivos?

Ora, Rosário do Sul já teve a experiência de um frigorífico. Por quê não algo semelhante?

Talvez pareça estranho, mas a criação de cabras para produção de leite UHT é excelente ideia.

O modelo pode ser de cooperativa, em que inúmeros pequenos produtores são treinados na criação dos animais e produção leiteira, sob suporte especializado ligado à administração pública. Mão de obra passível de assumir o papel de pequeno produtor está disponível na cidade.

Os resultados econômicos são auspiciosos. Em São Paulo, por exemplo, o litro de leite de cabra pode ser adquirido em supermercados por preços que variam entre R$ 5,00 e R$ 6,00.

O negócio apresenta possibilidades de crescimento ao longo do tempo de modo autossustentável. Produtores reunidos em cooperativa podem iniciar com uma pequena usina de processamento e crescer na medida em que as técnicas de produção e comercialização se estabilizem e atinjam maiores índices. O governo municipal pode adquirir o leite e integrá-lo na merenda escolar. Além do mais, o leite de cabra apresenta uma vantagem sobre o leite de vaca: existem crianças alérgicas ao leite de vaca e não ao leite de cabra, em função das proteínas diferentes presentes nos dois alimentos.



Para quem duvida da ideia, dois argumentos poderosos: o leite de cabra da foto é produzido em Viamão (RS) e foi adquirido em Santo André – SP, ao preço de R$ 6,00 o litro.
Quanto ao modelo de produção baseado em cooperativas, a França adota esse modelo há décadas com excelentes resultados, inclusive no Brasil.


Existem outras opções em termos de projetos de desenvolvimento. Um membro da comunidade Rosário do Sul / Debates sugere investimentos no desenvolvimento da citricultura.   É opção que depende apenas dos objetivos gerais do empreendimento. A Caprinocultura, desde que com suporte e orientação adequados, abrange universo maior de pessoas por permitir que, em espaço físico reduzido e relativo baixo volume de investimento, qualquer pessoa se torne um microempresário e não simples empregado.


Colaboraram neste post Jair Rodrigues Mendes e Luciana Flores Figueredo.

domingo, 6 de novembro de 2011

Trânsito e cidadania


Rosário do Sul têm interessante comunidade no Facebook voltada para o debate dos problemas que afligem a cidade.


Uma das questões debatidas é a insegurança do trânsito.

Esse não é um problema específico da cidade, mas do Brasil inteiro. A revista Veja, de 02 de novembro deste ano, contém reportagem que indica que, a cada 13 minutos, uma pessoa morre em decorrência de algum tipo de acidente em uma estrada ou rua brasileira.


Uma das principais causas é a ingestão de bebidas alcoólicas. E, talvez um fato ainda não percebido de modo crítico pelos rosarienses: a cidade possui diversos estabelecimentos que comercializam cervejas 24 horas ao dia, algo há muito banido de cidades de São Paulo. Apenas a título de ilustração, Diadema, uma cidade na Grande São Paulo, reduziu expressivamente seus índices de violência proibindo a comercialização de álcool após as 23 horas (alegar que restringir a comercialização de bebidas alcoólicas aumenta o desemprego, como ouvi de uma autoridade rosariense, é argumento, no mínimo, ingênuo. Falta a correta formulação do conceito de saúde pública).

As autoridades da cidade parecem desconhecer alguns conceitos básicos sobre segurança de vias com altas taxas de tráfego, como, por exemplo:

- muros laterais em concreto ao longo das vias para proteção aos pedestres (a vida de qualquer pessoa é mais importante que valores gastos na construção de muros de proteção),

- passarelas (espécies de pontes sobre as vias e em locais estratégicos) para travessias de pedestres e

- sinalização adequada.

A av. Rafael Gonçalves é descaso em segurança exemplar!




                                                autoria das fotos: Dr. Jair Rodrigues Mendes

Outro fator importantíssimo, não apenas para prevenção de acidentes, mas para o convívio social adequado: o exercício da cidadania de forma responsável.

O fascínio de muitas pessoas por um carro transforma-o em objeto de prazer e poder capaz de suprimir o devido direito à vida de outras pessoas. Esse é indicativo de grave deficiência educacional na configuração do cidadão!

Em geral, nosso nível de educação social é tão pequeno que desrespeitamos regras elementares, como o uso do cinto de segurança, a observação das regras de trânsito e a manutenção adequada do veículo de nossa propriedade ("basta a capacidade de locomover-se").

Infelizmente, nossa noção de cidadania foca-se na exigência de direitos e supressão de responsabilidades pessoais. Até aprendermos o pleno significado de convivência social e que a responsabilidade dessa aprendizagem diz respeito a todos, autoridades e cidadãos, teremos que conviver com o desrespeito à pessoa de nosso semelhante, seja pela violência no trânsito ou outros modos de violências.

Obviamente, não podemos desistir dessa luta. E a comunidade Rosário do Sul/ Debates parece estar plenamente imbuída nela. Parabéns!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Rosário do Sul e a antiga Cia. Swift-Armour


Por que a Cia Swift-Armour, desativada em 1982, era tão importante para Rosário?
Por um motivo elementar: por que propiciava trabalho e renda, de forma direta ou indireta, para a maioria da população economicamente ativa da cidade.




Entrada da Cia. Swift-Armour nos dias de hoje.
Autoria das Fotos: Dra. Luciana Flores Figueiredo.

Embora dados sistemáticos sobre a influência da multinacional na sociedade rosariense sejam raros (o portal da Prefeitura Municipal, por exemplo, na página dedicada à história da cidade, nem sequer a menciona), dados estatísticos permitem a avaliação da situação presente do município (nada animadores) e imaginar a época em que a cia. atuava na cidade:


total da população
em idade escolar (5-19 anos)
matriculadas
força de trabalho (20-49 anos)
empregados
desempregados
pessoas na faixa de pobreza e desigualdade
39.707
9.635
7.566
15.717
5.469
10.248
16.677
100,00 %
24,26 %
19,05 %
39,58 %
13,77 %
25,81 %
42,34 %


Em termos de pobreza, Rosário situa-se na faixa dos municípios mais pobres do Rio Grande do Sul (Mapa de Pobreza e Desigualdade – Municípios Brasileiros 2003 – Limite superior da incidência de Pobreza – IBGE); 25% da população na faixa de 20 - 49 anos e, portanto, em condições de trabalhar, está desempregada ou no mercado informal de trabalho e, consequentemente, sem proteção social; 21,5 % das crianças e jovens em idade escolar não estão matriculadas.

Tais dados demonstram alta probabilidade de que as tensões sociais na cidade aumentem progressivamente com o passar do tempo, como indicam as elevadas taxas de criminalidade cotidianamente noticiadas pela mídia local.

Sociologicamente, a situação de Rosário não é estranha. Desde a primeira metade do século passado, com os estudos de Abraham H. Maslow, sabe-se que a necessidade mais importante e com poder para influenciar consideravelmente os relacionamentos sociais são as necessidades fisiológicas (alimento, repouso, habitação) e segurança (emprego, confiança no futuro). E era exatamente nessas dimensões da vida humana que a Cia. Swift-Armour desempenhava papel fundamental: oportunidades de emprego para uma população carente, principalmente as pessoas com formação educacional formal de menor nível, (em termos de anos escolares).

As outras necessidades apontadas por Maslow (todas elas hierarquicamente estabelecidas) são o Convívio social (vida comunitária, aceitação, amizades), a Estima Social (confiança, status) e Autorrealização. Qualquer pessoa somente desenvolve interesse em posicionar-se em um nível superior quando o anterior estiver plenamente satisfeito.

Nesse contexto, Rosário precisa preencher o vazio deixado pela partida da Cia Swift-Armour e implementar um novo modelo de desenvolvimento econômico e social. Opções existem e serão apresentadas em posts futuros.

(post escrito em conjunto com a Dra. Luciana Flores Figueredo).